quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nossos aeroportos estão preparados para o futuro? E para o presente?







Ao vermos o caos aéreo na TV, ou ao vivenciarmos a experiência de esperar seis, oito ou até dias por um vôo no saguão do aeroporto é inevitável nos questionarmos: estamos bem resolvidos no quesito aeroportuário? E mais, estamos preparados para o futuro? Apesar de muitos especialistas defenderem que os aeroportos estão longe de uma crise similar à vivida no controle do espaço aéreo brasileiro, notícias boas também são raridade por aqui. Embora a Infraero, desde 2003, venha fazendo investimentos pesados nos aeroportos brasileiros, as críticas em relação à qualidade e à segurança são severas. Novamente, o expressivo crescimento do setor - em média 16% ao ano - além do aumento da oferta de companhias aéreas, que surgiram a partir da desregulamentação do setor nos anos 90, geraram problemas na infra-estrutura dos aeroportos e na qualidade dos serviços. Além disso, o sistema adotado pelas empresas de concentrar vôos em aeroportos centrais, como São Paulo e Brasília faz com que eles estejam cada vez mais sobrecarregados.
O caso do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, é um dos mais críticos. Hoje, já se discute a possibilidade de dividir vôos menos procurados ou para regiões mais distantes do País ou para o aeroporto de Guarulhos, o que desafogaria um pouco seu tráfego. No entanto, esta única medida não resolve o problema. "O aeroporto de Congonhas é um exemplo de como os principais aeroportos do País sofrem com déficit de infra-estrutura", revela presidente da Abetar (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional) Apostole Lack Chryssafidis. O problema toma proporções ainda maiores quando ele revela que nenhum dos aeroportos brasileiros, hoje, atende a real necessidade nacional. "Estamos muito atrasados em relação ao nosso crescimento e, também, em relação a outros países, mesmo os que não fazem parte da elite. Para se ter uma idéia, qualquer cidade da Malásia com 500 mil habitantes tem um aeroporto com o dobro do tamanho e da infra-estrutura do aeroporto de Congonhas, o mais relevante do nosso sistema aeroportuário", compara.
Para o diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Hildebrando Hoffmann, os problemas aeroportuários passam pela questão da segurança, más condições da pista, falta de infra-estrutura para atender passageiros em espera no salão de embarque, bem como, pelo atendimento entre o embarque e o desembarque. Embora pareça falta de planejamento, o que o professor defende e que vai de acordo com o discurso do presidente da Abetar, é que o planejamento não acompanha a demanda do crescimento do setor. "Não é que o planejamento não exista, mas ele deveria ser muito superior ao que já vem sendo feito. Além disso, há casos em que ele prioriza áreas que não são, de fato, prioridades", considera.
Quem não ficou estupefato com as imagens dos passageiros à espera de seus vôos dormindo no chão, enconstados nas paredes, ou sob as malas no saguão dos aeroportos? "É claro que não estamos falando na construção de dormitórios, mas é preciso pensar no conforto dos passageiros", defende Hoffmann. Para ele, as salas de espera deveriam ser mais amplas e confortáveis, uma vez que o passageiro irá passar um certo tempo ali no aeroporto. O que a gente vê, hoje, é uma supervalorização das áreas das lojas em detrimento das áreas de espera e de embarque e desembarque de passageiros. Isso é um equívoco," reclama.
Entre os especialistas em infra-estrutura aeroportuária não é novidade dizer que os aeroportos estão cada vez mais sofisticados para atender o consumo. As lojas se sobrepõem às seções de serviço ao passageiro. "Os aeroportos vêm sendo construídos para ser shopping centers. Definitivamente há um erro de estratégia", dispara o presidente da Abetar. E por que isso acontece? Para o professor da PUCRS, cada vez mais a lei do cifrão se sobrepõe à necessidade da população. "É mais vantajoso construir espaços que irão render aluguel do que investir em áreas que requerem manutenção. Mais uma vez em nosso País, o benefício é encarado como custo", lamenta Hoffman.
O aperto nos pátios também é outro problema crônico dos aeroportos brasileiros. Especialistas dizem que as pistas não são adequadas para o grande volume de aviões, e isso tem um grande impacto na economia. "Uma empresa de grande porte se vê obrigada a ter aviões menores, ou outros meios de transporte para completar a carga que fica no avião grande pousado no pátio", revela. O presidente da Abetar complementa: "é muito comum que os ônibus que levam os passageiros para os aviões estacionados nos pátios demorem a chegar, além de mudanças nos portões de embarque de última hora, por exemplo. Fora isso, com a concentração do setor em duas grandes empresas (TAM e Gol), que detêm mais de 80% do mercado, as empresas menores ficam limitadas a espaços menores dos aeroportos, mas não se pode bloquear o acesso das pequenas empresas à infra-estrutura existente", diz Chryssafidis.
Um outro problema no Brasil, desta vez, de ordem cultural, é a falta de segurança nos aeroportos. O professor da PUCRS denuncia que é muito comum parentes ou amigos dos funcionários terem acesso às áreas restritras do aeroporto. "De novo, internacionalmente isso é um muito ruim para a imagem do País. Então quer dizer que qualquer um pode entrar em um avião com um pacote ilícito? Como ter controle disso?", questiona. Para especialistas, cada vez mais a segurança é uma questão levada a sério por países estrangeiros. Sendo assim, o Brasil deveria investir em uma mudança cultural para atender aos padrões internacionais e garantir a segurança que se deve.
Em relação a outros países, os aeroportos brasileiros se mostram atrasados em mais um quesito: atuação em condições meteorológicas adversas. Segundo Hoffmann, nosso país não tem aeroportos com capacidade de atender em condições dois ou três, ou seja, com nevoeiro e condições automáticas de pouso e decolagem, respectivamente. Vale lembrar que isso tudo representa prejuízo econômico para o País, uma vez que significa mais gasto com querosene e custo com a tripulação, etc, enquanto o avião estiver no ar. "Hoje, em casos de nevoeiro, os aviões têm que ficar dando voltar no ar até conseguir autorização para pousar ou ser desviado para um aeroporto próximo com condições climáticas favoráveis. No exterior, isso não é mais uma realidade", diz. Além disso, não existem aeroportos no País que permitam pousos e decolagens automáticas em condições adversas. "Dada a importância do tráfego nos aeroportos de Minas, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, é extremamente obsoleto não termos tal recurso", encerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário